A última crise

Olho para o teto do meu quarto, ouço o relógio a correr, que horas são? Não sei, a insônia havia me pego de novo. A escuridão inundava o ambiente, mas meus olhos já haviam se acostumado e eu via tudo pela penumbra* e então estava vindo para acontecer mais uma noite de crises, onde só existe a mim e meus pensamentos que me matam mais e mais. Lembrar de uma vida inteira de dor e sofrimento era a maneira mais dolorosa de morrer. Sinto a primeira lágrima escorrer pelo meu rosto e lembro-me de quando eu era apenas uma garotinha, que havia se afastado de todos por medo de ser humilhada mais um vez, por medo de ser chamada por algum tipo de bicho selvagem ou alguma figura nojenta. A garotinha ingênua deixou alguém se aproximar por acreditar que poderia gostar de alguém e que alguém poderia gostar e no final de tudo ser humilhada, virar piada, ser enganada.
Nessa hora da noite, meu rosto está completamente molhado, meu coração doeu, nunca imaginaria que a tristeza me causaria tal tipo de dor. A garotinha também não, a garotinha queria acabar com essa dor, a garotinha queria morrer, a garotinha tentou se matar 3 vezes e não conseguiu. Então apenas ia dormir chorando todos os dias. Era uma luta silenciosa e solitária. A garotinha estava perdendo as forças, a garotinha tinha ganhado um amigo que ficou ao lado dela, que tentou provar que ela não era tudo o que todos diziam, mas então a garotinha perdeu seu amigo, a garotinha esperava toda noite uma mensagem, a garotinha ainda esperava ele voltar, mas ele não voltaria nunca mais, a garotinha tentou se matar de novo. A garotinha falhou. Seu amigo lhe presenteou com uma carta cheia de vida, e pedia para ele não desistir.
Eu já soluçava de tanto chorar e ainda nem havia chegado nas metades das lembranças que me mataria essa noite. A garotinha passou 8 anos de sua vida sem permite que ninguém a abraçasse, nem seu melhor amigo, apenas quando se despediram ele o fez. Mas a garotinha que não era mais uma garotinha, que perderá o amigo, havia encontrado algo que nunca imaginaria, encontrou o amor e tempos depois esse mesmo amor esmagou-a. A garotinha tinha desisto da vida. Não sorria, não comia, não vivia. Ela estava apenas esperando a hora da morte. A garotinha viu seu corpo em apenas pele e osso e sorriu "pelo menos agora estou magra e ninguém vai rir mais de mim". Depois de dias e dias chorando, a mãe da garotinha gritou em sua cara "Realmente quem gostaria de uma garota como você". As palavras cortaram a garotinha como nunca nada o fez, ele estava completamente morta agora. A garotinha entrou em depressão e ela não tinha mais seu amigo ali.
Eu já não tinha mais lágrimas para chorar, cambaleava até a cozinha atrás de algum remédio para finalmente dormir, mas as palavras se repetiam na minha mente "quem gostaria de uma garota como você", então eu cai no meio da cozinha, eu já tinha mais forças para seguir, talvez essa seja a ultima crise. Engoli cinco comprimidos esperando para quando cair no sono não acordar mais, esperando que essa dor tenha finalmente um fim.